terça-feira, 15 de setembro de 2009

Verão I

Só se fala do verão quando ele não corresponde às expectativas (vide Hegel e Deleuze: a máquina que funciona é a que está avariada), mas também quando vai terminar. Os sinais disso são mais que muitos e há quem já tenha saudades. Para mim, o verão representa uns cinco a seis meses sem usar meias ou peúgas, quatro a seis semanas de invasões bárbaras, e a lembrança sistemática do privilégio que é viver à beira mar todo o resto do ano. De praia, não gosto. Vivo suficientemente perto dela para gozar da minha dose de iodo, e assumo o risco de ficar só com as extremidades bronzeadas. Estar a tostar, que nem frango no espeto, agora para cima, depois para baixo, não é coisa que me seduza. Até me repugna. Não exibo suficientemente o resto do corpo para me constranger com a palidez decorrente.

As invasões bárbaras fazem a felicidade do comércio e acantonam as forças da ordem nas casernas, que turista não é para se contrariar: o comércio não ficaria feliz. Aos bárbaros*, vindos do norte e do leste, tudo é permitido: circulam de carro onde o indígena circula a pé ou de bicicleta, transformam ruas e praças em armazéns de sucata, geram filas de espera onde elas não costumam existir, transformam os ecopontos em monturos inestéticos. E, muito pior do que tudo isso, trazem com eles a ganância do comércio (mais ainda) e o aumento dos preços ao consumidor, espécie de taxa que nos cai em cima a meio do ano, e que volta a mudar no ano seguinte. Para cima, que para trás, mija a burra.

O bárbaro não se livra, porém, dos hábitos que o caracterizam no resto do ano. O problema é que ele não está familiarizado com as infraestruturas locais e serve-se como quer e como pode. Deve achar que é exótico.

* povos que nunca foram romanizados. E muito menos islamizados.


1 comentário:

Magda disse...

...onde o mar é mais azul
nas belas praias do sul
de doirada e ...areia...

A massificação/democratização tem os seus "inconvenientes".