segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Ave de Arribação

Já não sei quando é que percebi que era ave de arribação. Sem obrigação sazonal. Mas como fui dotado de pensamento e de capacidade de gerir algumas emoções, já fiz um ou dois ninhos. Já eram. Para sempre é uma unidade temporal dinâmica e a vida é curta.

Elaborei, finalmente, essa minha característica identitária, quando comecei a invadir os blogs dos meus amigos. Que nem cuco. Podia fazer como os outros, concordo mil por cento, com emoticons... mas não: quando pego, pego mesmo, protejam-se da diarreia mental.

Este ninho que agora estreio, é uma espécie de pedido de desculpas. Aqui posso pôr a cara e o cu a jeito para estalos e chutos que daí vierem. E retribuir um pouco do abrigo de que tenho beneficiado.

Como boa ave migratória, dou-me bem em qualquer latitude, fruto da educação cosmopolita que recebi nas Amoreiras, da facilidade de gostar de pessoas, ambientes e novidades, e da capacidade de adaptação que, acredito, é uma característica bem portuguesa. Ao contrário dos outros colonizadores, os portugueses, por carência ideológica, cultural e outras, misturaram-se genericamente com os nativos, onde quer que tenham arribado.

“Pedras Calcadas” vem da impossibilidade de usar cedilha nos URLs de gestão anglo-saxónica, já que eu queria chamar-lhe Pedras da Calçada. Estas e outras elucubrações surgiram a olhar para os 8kms de calçada “portuguesa” que se estendem ao longo das praias de Ipanema e Leblon (ida e volta) onde destilo as toxinas. Calcando-a. Calçada porque é empedrado, e portuguesa porque tenta imitar a sobre dita cuja. Tenta porque só se lhe assemelha de longe. Em cima dela, é fácil perceber que é feita à matroca, nas coxas, como lá se diz: esculhambada.

Apesar de utilizarem a mesma pedra, e respectivas características, sobretudo a facilidade do corte, não se encontra na “pedra portuguesa” do Brasil, o mosaico da calçada portuguesa, em que cada pedra é cortada em função da forma daquelas em que se vai encostar, para se sustentarem umas ás outras. Ali, sem preocupação de corte, elas são “coladas” com cimento, e depois admiram-se quando têm inundações nas ruas.

Quero com isto dizer que a “pedra portuguesa” brasileira não é uma arte portuguesa exportada. Nem sequer é um legado colonial, já que a coisa surgiu entre nós em meados do século XIX, já o Brasil era um país independente. E também me incomoda que seja mal copiada, porque isso desvirtua um património que também é meu. E porque acredito, porque vi, que os portugueses, e respectivos descendentes, deixaram uma obra notável no Brasil, que desmente todas as anedotas de portugueses que eles possam contar. Para mim, é só dor de cotovelo.

Insisti nesta distinção porque os pensamentos, sendo como as cerejas, são muitas vezes aleatórios e descosidos. Como a “pedra portuguesa” brasileira. Se fosse capaz de os costurar, que nem calceteiro português (sendo que a maior parte são cabo-verdianos) escreveria um livro, e não uma página virtual.

11 comentários:

Jose Ruah disse...

Permita-me uma achega, mas na ferramento de edição do titulo do blog creio ser possivel utilizar cedilhas.

Quanto ao demais, aqui espero por mais textos.

ZPedro disse...

No título, sim. No endereço "dot.com", não.

Vera Santana disse...

Parabéns pelo blog.
Hoje vi fazer uma curta visitinha. Amanhã haverá mais ...

Maria disse...

Excelente! Parabens!
Eu nao comento por falta de acentos.

Cristina Rodo disse...

Olá cá estou eu... Presente! Para te dar as estaladas na cara e os xutos no cu...lol ;)

Só cheguei agora e tenho de me ir embora que hoje começa(m) o(s) meu(s)Natalis Horribilis... é o primeiro de muitos... :(

Não quis no entanto deixar de cá vir num tirinho fazer a mijadela de marcação de território...;)

Dominique disse...

Bon vent pour ces "trottoirs" qui m'ont fait et me font toujours rêver au Portugal.
Félicitations pour ce blog.
Pour mes commentaires : ce sera lorsque je serai "in the mood"

Anónimo disse...

Já não era sem tempo.
Os teus escritos também nos enriquecem.
Já tive ocasião de te dizer, também cá andam a estragar a calçada portuguesa. Para que as pedras não saltem e se poupe na mão de obra dos calceteiros, andam a cobrir as juntas com cimento o que impermeabiliza o solo e é um risco em caso de grandes chuvadas. Se fores para o exterior do Colombo verás que a calçada portuguesa não é mais que grandes placas de calçada, a figir. Novamente a mão de obra...

Kiki disse...

E não dizias nada!! Foi preciso eu "botar" a resposta à cerveja para ver que tinhas um blogue.
Parabéns. Gostei de ler sobre a calçada portuguesa, penso que uma das características de Lisboa a desaparecer. Calceteiros poucos ou nenhuns já se vêem.
Enfim, virei cá mais vezes pois gosto de te ler.

Mac disse...

Ena, foi preciso andar a cuscar os comentadores da Cris, para cá chegar! Mas cheguei!!!

E ando eu na luta contra a calçada portuguesa, que tantos sapatos me arruína... joking! Quando bem conservada, é linda!

Beijos

Vera Santana disse...

I. A carência portuguesa - cultural, ideológica e outras - teria muito que contar ... pensando-se: - "Será assim tão enorme? Uma espécie de molde que se enche com qualquer coisinha? Ou será também uma forma de rebeldia que se não deixa colonizar...?".

II. Um dia, há muito, muito tempo, também calcetei. O chão do recreio de uma Escola Pública. Ao escrever este comentário, recordo o movimento do paralelipipedo a entrar na terra ao compasso do martelo. Não foi trabalho voluntário porque trabalhávamos para nós. Mas foi há tanto tempo! Foi noutro tempo.

III. Gostaria de acompanhar mais este blog mas vai ter de ficar para outra fase da minha vida porque agora tenho de juntar palavras noutro "ninho", parafraseando-te, Zé Pedro.

Magda disse...

Para que conste, e depois de ter reparado e chamado a atenção à minha prima Elisa para o chão "português" do Calçadão de Copacabana, umas pedras mais altas que outras, não sei o que fiz, mas dei um espalhanço monumental e fiquei completamente esticada no chão com os braços para a frente. A Elisa, que não é dos vídeos de acidentes não fotografou, mas foi pena. Bem me queria rir mas as dores foram grandes e não consegui. Ao pé coxinho fui até ao mar e fiquei de pé de molho, mas a água é amormonada, não sei que bem fez.
Farmácia, escolha de medicamentos dividida entre mim e ela (veterinária, mas numa altura destas deitamos mão a tudo, e cá estou imobilizada num quarto do hotel, em Ipanema!
ZPedro, aqui o "quem avisa meu amigo é" não serviu para nada!