terça-feira, 20 de julho de 2010

Allez, allez!

102º Fahrenheit. O papel queima a 451, a clara do ovo frita a 153, e a gema a 172, o que torna possível estrelar um ovo em papel, antes deste arder. Pelo que sinto, não é preciso tanto para fritar mioleira.

Nestes dias de canícula, além de uma geladinha, de vez em quando, o que mais falta são T.shirts de algodão fino para empapar a transpiração. 3 por 5 euros. Mas, por toda a Beira Alta, parece que a única roupa que se consegue comprar é a de cerimónia: para noivas, noivos, padrinhos, damas de honor, pais da noiva... É um desafio à lógica: colarinhos apertados, saias a arrastar pelo chão, casacas de abas de grilo. Ah, e coletes. A indústria do casório não vai de férias, no verão. Quem vem de férias, são os emigrantes. E é por isso que é agora que se juntam as courelas, e resolvem as alianças de família, quando estas se reunem, uma vez por ano.

As ruas abarrotam de Renaults, Peugeots e Citroens de matrículas francesas, suíças e alemãs. Onde houver um espaço, nem que seja dentro das muralhas do castelo, montam-se as tendas para os copos de água, em sessões contínuas. O estrado para a música é sempre o mesmo: por aqui desfilam todos os aspirantes a Quim Barreiros, porque o som preferido é o do bacalhau com alho, espécie de receita regional para a boa disposição.

A gente vai entrando, por entre o pessoal em delírio, a despedir-se do casalinho. Salada de orelha, azeitonas, pão de centeio, pastéis de bacalhau já frios... O tintol é carrascão genuíno, com aroma indisfarçável a bagaço. 
Por entre as lágrimas que vai limpando com as costas da mão, a megera não se deixa enganar pelos nossos calções Columbia e as sapatilhas poeirentas. As T.shirts também já estiveram mais frescas, logo de manhã.
Vous êtes des amis à Pascal? Responde-se "hum, hum" com um ligeiro maneio de cabeça, que é sinal de assentimento universal. Até porque o pastel de bacalhau ainda enrola na boca.
Ó Manel, estes são lá de Aubervilliers. Allez, allez, traz o Champagne. O verdadeiro!
Partindo do princípio que Pascal é o noivo que acabou de se evadir deste carnaval, com ar de gringos e um francês impec, já somos amigos de infância. Chega o Taittinger, gelado, e mais dois pratos de cozido, ainda quente. 
Se os restos hão-de ir para os porcos...

1 comentário:

magda disse...

Pois é mesmo assim. Só que este ano, com a crise, nota-se que estão cá menos. Aliás como o verão, também menos quente tirando a tua semana cá por cima.
Vi no cinema com a Joana R. o “Aquele Querido Mês de Agosto”, passado em Côja terra dos antepassados dela, foca aquilo que chamamos a piroseira dos emigrantes, mas a ligação deles com o nosso país não será maior que a nossa?
Escreve, escreve, que dá sempre gosto ler-te. Bjs