Um blog sem comentários é como um restaurante sem clientes. Quem é que lá se quer sentar sozinho? Se eu não tivesse metido um contador de visitas nesta página, eu teria a sensação de aqui entrar num deserto. Ou de viajar para uma estrela morta há milhões de anos, mas cuja luz ainda está a chegar à terra. Eu sei que carrego a maior parte da culpa, ao não cometer aqui com regularidade. Tenho obrigação de sabê-lo. Mas é assim que se fazem as espirais: não tenho feedback ao que aqui ponho, menos vontade tenho de cá voltar, os leitores esquecem, mesmo os mais "fiéis", e eu pergunto "para quê?". Um escritor sempre tem a publicidade do lançamento do livro, mesmo que publique só em ano de olimpíadas. Mas, se escreve, é porque tem, pelo menos, a sensação de que vai interessar alguém. De preferência, alguéns. E tem filtros para o saber: editores que aceitam partilhar a responsabilidade, leitores incondicionais, que também podem desincentivar e poupar a humilhação. Lançar garrafas com mensagens ao mar, é uma imagem romântica. Mas, para além da analogia, escrever para não ser lido, deve ser das coisas mais frustrantes que eu possa imaginar. Como fazer um filme e ninguém o querer ver, ou compôr música que ninguém quer editar.
O que aqui deixo é o que me parece interessante, polémico, engraçado. Só por dinheiro é que escrevo o que não me interessa. E mesmo assim, não tarda que comece a achar algum interesse. É como as cerejas. E, se algumas das minhas afirmações podem ser polémicas, isto é, a contra-corrente da ideologia dominante, eu trabalho bastante para aduzir argumentos que expliquem a postura. Alguns dos textos que por aqui vou deixando, deram muito trabalho a pesquisar, a estruturar, a arredondar. Alguns não ficam no tinteiro porque há muito que me deixei de caligrafias, mas dormem na pasta dos meus documentos, porque, muitas vezes, eu acho que perderam oportunidade, ou que não cheguei ao ponto a que queria chegar. Isto não seria impeditivo se eu tivesse a certeza de que os meus leitores (hum!) entendessem a imperfeição das coisas e estivessem disponíveis para participar. Muitas vezes, acho que não estão. Por falta de tempo, por preguiça, pela cultura de café que definitivamente se perdeu. Não sendo por isso que perco a vontade, na ausência de resposta, eu sei que também é por isso.
Já me disseram que eu vou muito longe nas questões, o que pode dar a impressão de que não deixo margem para "discussão". Não concordo: eu acho que, independentemente da forma, ou do conteúdo, há sempre espaço para rebater, para acrescentar um ponto e relançar a coisa. Se eu escrevo "mata", fico à espera que alguém responda "esfola!". O facto de eu não alimentar o mito do aquecimento global, dos pastéis de Belém, da bondade intrínseca das pessoas, do amor filial, da infalibilidade da autoridade, não deveria fazer deste blog um local a evitar.
A maior parte dos blogs serve para o autor se confessar, protestar, achincalhar, alimentar uma personagem. Para além do desejo de partilhar conhecimento, e "dar a ver". Mas em (quase) todos eles se aprende alguma coisa: basta haver curiosidade. E a estrutura enciclopédica da internet proporciona as viagens mais fabulosas que se poderiam imaginar. Algumas vezes deparo com questões que nunca me tinham passado pela cabeça. Dali, vou à procura de informação que complemente ou rebata o que acabei de ler. Por vezes, um simples "nunca tinha pensado nisso" é muito gratificante. Muita gente gosta de ser surpreendida, felizmente.
Não sei há quantas entradas é que eu deixei de surpreender os visitantes (hum!) desta página. Ou de lhes dar vontade de voltar. Eu não quero acreditar que as pessoas estejam tão agarradas à actualidade de um blog, que se substancia quase unicamente na data da publicação, que não encontrem curiosidade de navegarem pelos outros posts cujos links se podem encontrar na coluna à direita, nesta página. Basta um clique. Mas receio que isso possa ser verdade. Também receio que muita gente não "consiga" chegar ao fim de um texto correspondendo a 3 páginas A4. É verdade que os blogs mais frequentados são os que publicam mensagens curtas, um poema, uma foto, dois parágrafos, uma boca. É uma forma de estar. Não é a minha, porque acredito que há outros espaços para esse tipo de comunicação. Nomeadamente, as redes sociais. Mas aceito que isso possa ser mais um erro meu. Assim como continuar a achar que comer é (também) um acto eminentemente social, e não me apanham sozinho, à mesa de um restaurante.